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Lama da Samarco: de atração a desolação em Linhares

Lama de barragem de mineração muda a cor do mar do Espírito Santo, na região do distrito de Regência, em Linhares  - Gabriel Lordello/Mosaico Imagem
Lama de barragem de mineração muda a cor do mar do Espírito Santo, na região do distrito de Regência, em Linhares Imagem: Gabriel Lordello/Mosaico Imagem

Marcelo Moreira e Gabriel Lordêllo

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Linhares (ES)

24/11/2015 06h00

O clima era de apreensão, com o noticiário metralhando informações sobre a chegada da “lama de Mariana”, uma alusão das trágicas consequências do rompimento da barragem da mineradora Samarco, localizadas no município mineiro.

Lama e detritos praticamente soterraram subdistritos de Mariana e mataram o importante rio Doce, fonte de vida e sustento de milhões de pessoas entre Minas Gerais e Espírito Santo.

No entanto, assim como ocorreu em outras cidades, a chegada da lama pelo rio se tornou, por um momento, atração para a população da cidade capixaba de Linhares e também de seu distrito, a vila de Regência.

Lugares no parapeito de deques, portos e pontes sobre o rio Doce avermelhado pela lama da Samarco eram disputados até com rispidez na ponte perto do porto de Regência, na foz do rio. Havia expectativa, até mesmo a esperança de que a “corrente de sujeira” não chegasse. Mas ela chegou e coloriu de forma tristemente bela o oceano Atlântico.

Anoilton Alves Pereira, 52, pescador e morador a vida inteira em Regência, ficou paralisado com a chegada da lama. Em uma das margens do rio, acordou da letargia e tentou salvar alguns peixes que agonizavam. Só que não havia o que fazer: morreram em suas mãos.

Ilda Peanha, 73, andou bem devagar até a beira do rio. Dona de casa com mão boa para cozinhar para a comunidade, custou a acreditar que o rio tinha “acabado”.

Ela olhava fixamente para as águas barrentas, mas certamente não as enxergava. O olhar estava perdido no horizonte, para além do oceano.

Ilda se esforçava para tentar enxergar o futuro, ou algum futuro. A única coisa que via, no entanto, era tristeza. “Nem nos pesadelos a gente poderia imaginar que um dia isso pudesse acontecer. O rio é nossa vida, e estou vendo a vida indo embora com a lama.”

O caranguejo no manguezal ainda mostrava força e resistência, mas a luta era inglória. Quanto tempo conseguiria permanecer em sua “toca”? Para onde iria?

Simonne Capeletti, 49, administradora de empresas, estava de passagem por Regência, acompanhando um grupo de frequentadores de trilhas. Estava desolada: "Tomamos banho aqui ontem, agora já não podemos mais. Muito triste”.

A desolação também era perceptível no rosto das crianças, incomodadas com a invasão de seu “quintal”. O mangue foi tomado pelas águas marrons de Mariana. Era difícil de entender o que acontecia, mas certamente sabem o que está acontecendo.

O que não sabem é o que vai acontecer daqui para a frente, assim como ambientalistas, moradores de Regência e de todos locais atingidos pelo mar de lama da Samarco.